Histórias: seu Portela, bom de faca, dá lição a jovem

Gramado sempre foi rica em histórias do cotidiano.  Uma delas é contada por Paulo Cardoso: "Seu Portela era um velhinho octogenário, que circulava entre as Linhas Furna, Nova, Vila Moura e centro da cidade. Ninguém conhecia sua origem, mas sabiam que fora marinheiro, e que havia lutado na Guerra do Paraguai (nunca entendi o que os marinheiros foram fazer no Paraguai). Pois se conta que o macróbio era bom da faca, rápido como um cusco cutucado de espora nova, e que era imbatível numa peleia de arma branca.
Certa feita, meus primos Ananias, Izaías, Elias, e sabe-se lá quantos 'ìas' mais, acompanhados do primo Dorvalão, encontraram o velho Portela, e Dorvalão resolveu fazer uma graça com o velhinho curvadinho e o desafiou: 'Ô, tio Portela! Que tal a gente tirá um treino de adaga pra ver se o senhor é tão ligeiro quanto dizem?' 'Outra hora, meu filho. Eu lhe aviso quando estiver preparado', foi a resposta.
A hora chegou, e o velho apareceu ao grupo, dizendo ao Dorvalão: 'Se o filho quiser, estou preparado'. Escolheram então talo de coqueiro para substituir a adaga, e Dorvalão perguntou: 'De que tamanho faremos o talo, tio Portela?' 'Depende quanto o filho quer apanhar', foi a resposta. Terminaram os talos e o velho sugeriu: 'O filho, comece !' Dorvalão deu uma lambada e errou. Foi a única. O velho se esquivou e deixou o rapaz cheio de vergões pelo corpo dolorido por dias.
Nunca mais mexeram com o velho Portela. Morreu aos 105 anos".